
Foto de Alexander Jawfox na Unsplash
por Luiz Felipe Leprevost
Provável que você comece a bocejar deste já, desde a primeira frase. Às vezes a coisa não passa de cortar a água do mar para definir territórios. Ou de areia a escorrer pelos dedos. Às vezes é como tomar pastilhas de plenitude (existe isso, Senhor Proust?).
Afinal, escrever pode que é um contínuo dizer que não se diz. E se gagueja que tudo foi já gaguejado e é alguma coisa que não sabemos o quê. E já que tudo é decepcionante como uma conta de boteco muitíssimo alta que só pertence a você, vai lá, abre outra cerveja e toma pensando na vida, depois dorme mais que longamente…
Veja, é provável que você se chateie nas próximas linhas também. Justamente você que gostaria que nelas estivessem desenhadas genialidades, coisas como um Catatau, um Galáxias, talvez um Riobaldo com uísque e red-bull nos cornos monologando, talvez um Água Viva lispectoriano a queimar seus olhos.
Possivelmente você vai se aborrecer, exatamente você que estava esperando romanceiros, ditirambos, baladas, haicais, prantos, preces, quadras, trocadilhos sem iguais, sei lá, poemas-piada, trovas, o clímax do enredo, rondós, terças-rimas, sínqueses, sinéreses, síncopes, sístoles, sinestesias, teses e antíteses.
Ou ódios, áudios no zap, odes, salmos, madrigais. Que tal aboios, roteiros, tratados, petições jurídicas. E casidas, gazeis, hinos, fábulas, formulários, resenhas, eufonias, cacofonias, elegias, alegorias. Receitas de bolo, de médico, jograis, epigramas, sonetos, epitalâmios e protalâmios, expressões verbi-voco-visuais.
Epopeias, canções, cantigas, bilhetes suicidas, bilhetes de geladeira, paródias, e-mails, twitters. Parábolas, emboladas, testamentos (chega! Falou falou falou até me expulsar os ouvidos!) — acontece que isso aqui é só uma crônica passageira de jornal.