
Vinhos da Bodega Costantini: raízes argentinas em terroir brasileiro - Foto: Júlio Zaruch
Um feito. Em sua primeira participação em um concurso de vinhos – o Vinalies Internationales 2025, realizado em Cannes, na França, de 28 de fevereiro a 4 de março, e um dos mais importantes do segmento -, a Bodega Costantini, paranaense, obteve duas medalhas de ouro: com o Angaco Don Costantino 2022, blend das uvas Syrah, Tannat e Cabernet Sauvignon, e o Angaco Enigma 2022, corte de Syrah, Tannat, Cabernet Sauvignon, Malbec e Bonarda, o top de linha da vinícola. Foram avaliados mais de 2 mil rótulos de 36 países por jurados internacionais em degustações às cegas.
Até chegar à cobiçada premiação, a história da Bodega Costantini faz uma curva para unir as duas pontas da trajetória: a família é originária de Pastina, Ascolin Pasceni, Itália, também no Velho Mundo como Cannes, onde cultivava vinhedos. Mais tarde, aportou na cidade argentina de Angaco (daí o prenome dos vinhos) e, de lá, um dos membros da terceira geração, o médico Costantino Roberto Costantini Frack, natural de San Juan, Argentina, e radicado em Curitiba desde o final dos anos 1970 - e que sempre manteve viva a memória da infância no sítio do pai em Angaco – passou a cultivar maçãs e uvas num lugar quase esquecido do sul do Paraná, a cidade de Porto Amazonas.
Corte para um momento do passado: Porto Amazonas (PR) é uma cidade cheia de histórias, principalmente ligada ao comércio da erva-mate. Foi ali que o coronel Amazonas de Araújo Marcondes, nascido em Palmas (PR), começou seu negócio de transporte da erva-mate, depois de obter, em abril de 1879, a concessão outorgada por decreto do imperador D. Pedro II. Marcondes, que já transportava colonos em sua cidade natal, lançou aos rios Iguaçu e aos seus afluentes Negro, Canoinhas, Potinga e Timbó os seus navios – vapores -, entre os quais Cruzeiro, Visconde de Guarapuava, Rio Negro e São Carlos, com 19 metros de comprimento por 3,5 metros de largura.
Alessando Constantino, filho de Costantini e diretor da vinícola, diz que a Bodega Costantini “é o resultado de uma paixão familiar que tomou forma há mais de uma década, quando a família Costantini começou a produzir vinhos para consumo próprio. Em 2024, os primeiros rótulos foram lançados comercialmente, apresentando ao mercado blends autorais que combinam tradição, inovação e o desafio de um terroir jovem, porém promissor”.
E lembra os tempos pioneiros de seu pai, o médico Costantino Roberto Costantini Frack, também fundador do Hospital Costantini, e de seus avós, desde os tempos da argentina Angaco. Cita, ainda, que a família Costantini trouxe da Argentina o enólogo Raul Esteban Menegazzo, uma lenda viva da enologia. Com mais de cinco décadas de experiência e responsável por impulsionar a produção vinícola na província de San Juan nas décadas de 1970 e 1980, Menegazzo aceitou o desafio de conduzir as vinhas em solo brasileiro, transferindo o DNA de Angaco para o segundo planalto paranaense.
Hoje, a Bodega Costantini cultiva uvas Syrah, Malbec, Tannat, Cabernet Sauvignon e Bonarda a 875 metros de altitude. E o resultado dessa história de persistência e paixão tem conquistado paladares no Brasil e no exterior.
Os vinhos da Bodega: Angaco Don Costantino: Um blend de Syrah, Tannat e Cabernet Sauvignon, 13,5% de teor alcoólico, amadureceu dois anos em garrafa e tem potencial de guarda de até cinco anos; Angaco Enigma, blend de Syrah, Tannat, Cabernet Sauvignon, Malbec e Bonarda, também com 13,5% de teor alcoólico e dois anos de amadurecimento em garrafa; Syrah Nouveau, jovem, frutado, com notas de frutas vermelhas; Angélica Frack, a primeira sidra brasileira elaborada pelo método tradicional Champenoise, nas versões brut e demi-sec.