
Foto de Hush Naidoo Jade Photography
por Luiz Felipe Leprevost
[Uma crônica romântica]
Estão nos pequenos palcos, nos bares, criando e cantando versos, aplaudindo uns aos outros, os desajustados do amor, na encarnação de seus destinos, a retratar o cotidiano com perplexidade.
E, encontro de almas, seguem sorrindo. Seus rostos, porém, não se dão conta que, por terem a vertigem atravessada, estão um tanto desfigurados. Amigos lado a lado, como Jules e Jim, como Matthew e os irmãos Isabelle e Theo de Os Sonhadores, como Verlaine e Rimbaud, os desajustados do amor são vivas interpelações a perambular pela madrugada.
E se deixarão amar e amarão, mesmo com o medo embutido, talvez apenas aparentemente sem vergonha, com as feridas menos visíveis abertas. E dentro desse amor caberá aquilo que, uma vez mais, estão há tantos anos abandonando. Ainda assim se beijarão com seus olhos pequenos, pálpebras semi-cerradas. E esgotarão os corpos, os corpos carregados com a noite por dentro a fazer transfusão de escuridões.
E porque para eles o amor vivo é um amor em conflito, terão a necessidade de espaço. Espaço entre suas palavras escritas e declamadas, espaço entre as notas musicais, espaço entre seus pensamentos, espaço dentro de uma xícara de café pela manhã.
E assim, depois que os desajustados do amor se vão, o espaço existe. O espaço existe antes de seus poemas nascerem. O espaço existe quando as suas canções morrem na memória de quem as escutou. O espaço existe em sua solidão irremediável.