
Foto: reprodução
por Luiz Felipe Leprevost
“A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”, vocês lembram, claro, a lapidar frase do Vinicius de Moraes. Ela ficou rondando a minha cachola o final de semana todo.
Recortei dela a ideia de arte do encontro. Que arte seria essa? Talvez a arte do encontro seja uma espécie de arte do lazer. Se bem que lazer é uma palavra que pode ser vista pejorativamente, não? Como uma coisa de desocupados. Todos precisamos de lazer, mas o lazer cada vez custa mais caro. A arte do encontro, sem dúvida, demanda tempo, tempo de qualidade de vida.
Talvez por isso tenha me ocorrido a ideia do lazer. Mas, refinando o pensando, a arte do encontro talvez possa estar mais na arte do descanso do que do lazer. Isto é, na nossa capacidade de descansar no outro, descansar com o outro ou mesmo descansar do outro. Em estarmos apaziguados, tranquilos. Paz de espírito é como dizemos.
O outro entrou aqui porque encontro só é possível com o outro — mesmo que seja o outro em nós mesmos, uma vez que se encontrar é se realizar, e se realizar é ter encontrado um sentido, um propósito. Pode que o encontro com o outro e o encontro consigo mesmo são a flor das relações humanas.
Imagino que existam centenas, milhares de tipos de encontros — ao acaso, furtivos, planejados, agendados, agenciados, etc.
Se um encontro foi um encontro ENCONTRO mesmo, significativo, ele ficará em nós para vida toda. Não sou nenhum especialista em relações humanas, mas grande das nossas reuniões são triviais e improdutivos do ponto de vista da ampliação da nossa humanidade, do nosso crescimento pessoal. Não fedem nem cheiram, não fazem a menor diferença. As infinitas reuniões urgentíssimas de trabalho então nem se fala. A gente se encontrar de verdade com alguém é muito mais do que partilhar tempo e espaço.
Muitas vezes é assim, por um instante, nossos olhos se encontram. Nossas vozes se encontram no ar. O seu nariz encontra o meu cheiro. Nossas bocas não se encontram. A sua bochecha encontra a lateral da minha nuca — isso é um beijo? Os seu peitos não encontram o meu tórax, mas os nossos corações se encontram. As nossas risadas se encontram. Os nossos sexos não se encontram. Nossos olhos se encontram novamente no bar. Nossas mãos não se encontram. Nossos copos num brinde se encontram. As nossas lágrimas não se encontram. Os nossos amigos se encontram. Nossas visões projetadas não se encontram. As confusões dos nossos corações se encontram. Não sei se nossas alegrias realmente se encontram. Nossas tristezas meio que sempre se encontram. Você se encontra no seu projeto pessoal. Eu me encontro na literatura, eu não me encontro na literatura l. As nossas carnes não se encontram. As nossas cidades não se encontram. As nossas vontades não se encontram. As nossas vidas se encontram. As nossas lembranças de nossos desencontros se encontram. Nossos olhos por um instante se encontram.
Nós somos um encontro e a arte do encontro é muito simples. A arte do encontro não precisa fazer nada, é só gostar da pessoa e a pessoa já se sabe amada.