
Bela Manu rege o primeiro coral trans de Curitiba
A revista Ciência UFPR, editada pela Superintendência de Comunicação da Universidade Federal do Paraná, em alusão ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, que se registra nesta quarta-feira (29 de janeiro), reporta a vida da cantora e musicista Manu Santos, formada em Música pela UFPR. Mulher trans e negra, ela é regente do primeiro coral trans de Curitiba, o LLista Trans.
Diz a revista: Foi em projetos culturais oferecidos por iniciativas públicas que Manu Santos aprendeu a tocar os primeiros instrumentos — violão e guitarra — ainda na adolescência. Os estudos de canto começaram no coro do Colégio Estadual do Paraná, onde cursou o ensino médio. Outras experiências vieram com o coro cênico de Curitiba, coro da UFPR e Núcleo de Ópera Comunitário de Curitiba.
Em 2018, muitas coisas mudaram: nome, pronomes, gênero. Apesar de lembrar que “lá dentro sempre soube”, somente aos 18 anos Manu começou a se questionar sobre quem era. O processo a levou a um lugar de conforto e identificação como mulher trans.
No curso de Música, conheceu o projeto de extensão Laboratório de Práticas e Ensino de Canto (Labvox) em que iniciou a formação como preparadora vocal e regente. As questões de pessoas trans no canto passaram a instigar a reflexão da estudante e tornaram-se, inclusive, objeto de sua pesquisa de conclusão de curso, aprovada com nota máxima em dezembro de 2024, aos 24 anos.
Manu questiona a abordagem de divisão de naipes (tipos de voz) e classificação vocal usada por alguns corais, que nomeiam as vozes graves como masculinas e as vozes agudas como femininas. A musicista acredita que os sons devem ser apenas graves e agudos, sem gêneros, assim como instrumentos musicais.
Isso porque, em sua compreensão, a relação entre a voz e a identidade é muito forte, principalmente durante o processo de transição. A cobrança de aproximação de um padrão cisgênero é considerada injusta e a sua luta inclui mostrar o quão doloroso isso pode ser para uma pessoa trans.
Durante a graduação, criou o primeiro coral formado por pessoas trans em Curitiba. O grupo Llista Trans envolve, atualmente, mais de 30 pessoas trans e é regido por Manu. Os encontros acontecem semanalmente no Departamento de Artes da UFPR, com apoio voluntário de estudantes da UFPR e da Tecnológica (UTFPR). O repertório da Llista é composto por músicas que representam vivências da comunidade LGBTQIAPN+ e questões sociais, como transfobia, racismo, intolerância religiosa e capacitismo.
Para Manu, é apenas o começo. Ela pretende garantir estrutura e continuidade do projeto, além de oferecer uma rede de apoio aos colegas trans.
A entrevista à Revista Ciência UFPR, em que fala de sua trajetória pessoal, sobre os desafios relacionados à identidade de gênero, sobre a contribuição da arte para construção de espaços mais inclusivos e acolhedores e traz reflexões sobre estratégias pedagógicas voltadas às vozes trans, pode ser acessada na íntegra em:
https://ciencia.ufpr.br/portal/sons-nao-tem-genero-sao-apenas-sons-manu-santos/ .