Conclave é excelente filme, sem dúvida
15/01/2025 às 15:09
Não são muitos, mas bons filmes já abordaram a intimidade do Vaticano, incluindo até mesmo O Poderoso Chefão. Mas Conclave, estreante em 23 de janeiro, é mais minucioso e surpreendente – até “progressista”. Na semana em que é celebrado o Dia Mundial da Religião, 21 de janeiro, o filme cotado para estar na cerimônia do Oscar e provável vencedor do Bafta 2025, é um atraente convite à reflexão.
Ralph Fiennes interpreta o cardeal Lawrence que vai coordenar a secretíssima votação do novo papa. A reunião de eleitores, mais de cem líderes da Igreja Católica, o colégio de cardeais, revela-se um aparelho político, repleto de intrigas, fofocas e intolerâncias. Verdadeira luta pelo poder.
Às vésperas de pedir remoção do Vaticano, entretanto, Lawrence foi escolhido para conduzir o conclave como última ordem do papa antes de sua morte repentina. Em sua homilia, o cardeal dita a frase mais importante do filme: a dúvida, e não a certeza, é a bússola da igreja, pois ela justifica a fé. E é a dúvida que, para ele, deve ser levada em consideração no escrutínio.
No entanto, as descobertas de Lawrence, ao meio de uma conspiração, mostram que está em jogo não só a fé ou a escolha do futuro pontífice (“o menos pior”), como o próprio futuro da igreja corre sérios perigos.
Com reviravoltas e suspense, uma figura feminina, a freira interpretada por Isabella Rossellini, é fundamental para o desfecho da história. Contudo, o fim mesmo é tão surpreendente que não deve ser revelado aqui, nem em nenhum outro lugar. O resenhista que fizer isso cairá em pecado mortal, com certeza.
Dirigido pelo suiço Edward Berger (Nada de Novo no Front, Oscar de Melhor Filme), o roteiro de Peter Straughan (O Espião que Sabia Demais) ganhou o Globo de Ouro 2025 e está com doze indicações no Bafta. O filme é baseado no romance de 2016 de Robert Harris, trazendo, não só minúcias de aspectos do conclave, como questionamentos atuais sobre religião, moralidade e o papel da Igreja Católica.
Além de Ralph Fiennes, o excelente elenco masculino principal assim se compõe com seus personagens: o cardeal Bellini (Stanley Tucci) é progressista, o cardeal Trembley (John Lithgow) é conservador, cardeal Tedesco (Sergio Castellitto) é reacionário e o cardeal Adeyemi (Lucian Msamati) acena como a enfim possibilidade de um papa africano.
Louvável e merecedora de prêmios é também a fotografia de Stéphane Fontaine. A mais bela cena é a dos religiosos em um dia chuvoso, no pátio do Vaticano, protegidos por guarda-chuvas brancos. A trilha musical - vigorosa, tensa e solene – é assinada por Volker Bertelmann (Oscar por Nada de Novo no Front) e por certo deve ser lembrada para premiações.

 Curiosidades: Sem autorização para filmar na Capela Sistina, foi criada uma réplica. A designer de produção Suzie Davies utilizou um cenário encontrado no próprio estúdio romano Cinecittà, onde foram realizadas as filmagens. Porém, a capela fake estava incompleta e a mesma equipe de artesãos que criaram o cenário original concluiu a obra.
Carlos Diehz, arquiteto e ator mexicano que interpreta o carismático cardeal Benítez, fez curso de interpretação online em 2020. No livro de Robert Harris, o personagem é filipino, mas no filme, muda de nacionalidade. 
P.S: O ator britânico Ralph Fiennes, magnífico como um cardeal investigativo, tem falas em latim no filme, e Isabela Rossellini, bela atriz nascida em Roma, dialoga em inglês. Os dois ganharam indicações por suas performances no Bafta 2025, prêmio da Academia Britânica de Artes do Cinema e Televisão anunciado hoje, dia 15. O resultado será conhecido em 16 de fevereiro.
 
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