Maria Fernanda Cândido inaugura Teatro-D-Jaraguá
09/01/2025 às 20:56
Com o espetáculo inédito Balada Acima do Abismo, criado por Catarina Brandão a partir de diversos textos de Clarice Lispector, o novo Teatro-D-Jaraguá será inaugurado em São Paulo, neste mês, 25, dia do aniversário da cidade. Em cena Maria Fernanda Cândido que, no ano passado, viveu no cinema A Paixão Segundo G.H.
Essa é a primeira versão brasileira da peça que estreou em Paris em 2022 e foi especialmente produzida pelo paranaense Darson Ribeiro para a abertura do novo teatro paulistano, no edifício onde funcionou o jornal O Estado de S.Paulo e um hotel que hospedou Alain Delon, Fellini e Sophia Loren, entre outros artistas, além de personalidades históricas, como Fidel Castro e Gagarin.
 Balada Acima do Abismo, com a direção de Gonzaga Pedrosa, apresenta Maria Fernanda Cândido vivendo momentos biográficos de Clarice Lispector e de seu instigante universo literários em diálogo com grandes obras do repertório para piano, interpretadas ao vivo pela premiada pianista Sonia Rubinsky, paulista de Campinas, de talento reconhecido na adolescência  por Arthur Rubinstein, que elogiou seu forte temperamento musical e a incentivou a seguir carreira como solista.
A ideia da peça nasceu em 2020, quando Maria Fernanda, há sete anos morando na França, foi convidada a participar dos eventos comemorativos do centenário de Clarice Lispector. Nesse contexto, surgiu o projeto, ao fim adiado devido à pandemia. A estreia foi acontecer em 2021 na Embaixada do Brasil em Paris; entre 2022 e 2023, esteve em cartaz no L'Accord Parfait, em Montmartre.
Já o título do espetáculo nasceu sob inspiração do poema Visão de Clarice Lispector, que Drummond concebeu diante da morte da escritora em 1977. Catarina Brandão, responsável pelo espetáculo e adaptação dos textos, deu ênfase à espiritualidade, ao feminino, como também à vocação literária. E, presente ao longo do processo criativo, “a metáfora do abismo evoca não apenas perigo e caos, mas também a vastidão do desconhecido e o mergulho na subjetividade”. A peça ostenta ainda cenário e figurino de Fábio Namatame e luz de Caetano Vilela.
 
A escritora e a atriz

Nascida Haya Pinkhasovna Lispector em 10 de dezembro de 1920 na cidade ucraniana de Tchetchelnik, um ano depois vinha com os pais morar no Brasil.  Morreu em dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, deixando um legado literário imortal.
O produtor Danson Ribeiro, além de homenagear a obra de Clarice, celebra com a Balada Acima do Abismo a carreira de Maria Fernanda Cândido e sua relação com a literatura de Clarice Lispector, que dura mais de três décadas. Era adolescente quando leu A Hora da Estrela e amou. Em 2002, ao final das gravações de uma novela, ela ganhou do diretor Luiz Fernando Carvalho o romance A Paixão Segundo G.H. Vinte anos depois, o próprio Luiz Fernando adaptava o livro para o cinema e Maria Fernanda faria o papel principal. O filme estreou no ano passado em Portugal e percorreu importantes festivais brasileiros e estrangeiros, como os de Rotterdam, do Rio e Mostra de São Paulo.
A Paixão Segundo G.H, um dos romances mais prestigiados da trajetória da autora, ganhou a versão cinematográfica nos 60 anos de sua primeira edição – a publicação estreou em 1964, em plena ditadura militar.
Por sua atuação no filme, Maria Fernanda recebeu os prêmios de Melhor Interpretação no Festival Internacional de Cine Independiente – BAFICI, em Buenos Aires; Melhor Atriz  no Festival de Siena, na Itália, e Menção Especial do Júri Jovem no Filmadrid, Espanha.
 
D de Darson
 
Em 1940, Clarice começa sua carreira de jornalista, trabalhando como redatora e repórter na Agência Nacional, no Correio da Manhã e no Diário da Noite. Pois, por coincidência ou não, o novo teatro que abre com peça em sua homenagem está instalado no edifício modernista, projetado para o 4º Centenário de São Paulo (25 de janeiro de 1954), a pedido da família Mesquita para sediar o jornal O Estado de S. Paulo. A prefeitura atraiu a hotelaria, estabelendo também o Hotel Jaraguá do 9º ao 23º andar.
O jornal saiu dali faz tempo, mas o imponente edifício se manteve com seus 24 andares. Exibe diversas obras de arte, além de painéis gigantes de Di Cavalcanti na fachada, e um mural de Clóvis Graciano no lobby - que passa a ter o Bar do Clóvis, em sua homenagem.
A notoriedade do hotel deu-se não só pelo endereço e arquitetura, mas também por seus hópedes:Alain Delon, Ella Fitzgerald, Sophia Loren, Frederico Fellini, Brigitte Bardot, Louis Armstrong, Gina Lollobrigida, Edith Piaf, Tony Curtis, Ginger Rogers, Mick Jagger, Henry Ford II, rainha Elizabeth II, Robert Kennedy, Fidel Castro, Yuri Gagarin e Juscelino Kubitschek, por exemplo.
Tombada pelo Patrimônio Histórico, a edificação ainda abriga o hotel, reaberto em 2024 sob a bandeira da rede Nacional Inn. As fotos dos ilustres hóspedes decoram o saguão.
E agora, ali o Teatro D-Jaraguá, sob a gestão do ator, diretor e produtor Darson Ribeiro, “abre suas portas abençoado por Lispector, já que a vida é para quem é corajoso o suficiente para se arriscar...”.
A frase é significativa, afinal Darson Ribeiro, paranaense de Cornélio Procópio, com formação teatral pela PUCPR, em Curitiba, tem uma experiência ousada tanto nos palcos como nos bastidores. Em São Paulo, ele inaugurou em 2019 o Teatro-D, durante o período da pandemia, foi condecorado por ter encenado num estacionamento, e produziu espetáculos importantes, como Hamlet, em encenação da premiada Cia Armazém.
Com a montagem de Disney Killer, em 2013, deu uma “saborosa” entrevista no Programa do Jô, onde assustou o sertanejo Luciano ao comer uma barata, já que esse momento acontecia na peça que foi encenada no Rio, Curitiba, São Paulo e Londrina. Um de seus notáveis trabalho como ator acontece em O Homem Que Queria Ser Livro e revela verve de comediante em Homens no Divã.  
 Agora, abre um teatro unido a um icônioco hotel, que exibe bilheteria em pleno lobby.  O Café do Clóvis é outro atrativo. “O público vai ter conforto para um drink ou café enquanto aguarda para descer à sala de espetáculos, podendo apreciar fotos do acervo do hotel”, sugere Darson.
A fachada também foi recuperada incluindo o paisagismo no entorno. Para a inauguração um dos marcos será um ‘flashmob” homenageando duas das principais funções do hotel que comemora 71 anos: os porteiros/recepcionistas e as camareiras.
Observação: o Teatro D-Jaraguá nasce por iniciativa de Darson depois da feliz experiência com o Teatro-D, no Itaim, inaugurado por Ney Matogrosso, que só teve suas atividades encerradas pela venda e demolição do prédio. Amarga lembrança: o prédio foi vendido em plena temporada da atriz Heloísa Périssé que veio de Portugal para estrear A Iluminada.
 Contudo, “o sonho continua sendo concretizado, diz o ousado produtor, com a chancela de uma das mais importantes redes hoteleiras do país, a Nacional Inn, para poder oferecer não só ao público um novo espaço, mas, também aos técnicos, e artistas de modo geral, com uma reforma totalmente necessária e coerente aos palcos que chamamos de teatro de prosa”.
Bem equipado, capaz também de receber eventos corporativos, o teatro tem capacidade para 260 pessoas. Em formato italiano, o palco ganhou mais altura, profundidade e largura, oferecendo uma curva de visibilidade melhor ao espectador, além de entrada e saída exclusiva para artistas, e elevador de carga para cenários. E vai ligar os serviços do Nacional Inn (referência em resorts na região das Minas Gerais) com o teatro, como ingressos-casados com welcome drink e jantar, além de outras promoções.
 O D-Jaraguá visa reforçar a revitalização do centro da cidade. O público poderá desfrutar da estrutura de segurança 24h, estacionamento exclusivo na porta e descontos em hospedagens e eventos. A fachada será em led ao lado de seis grandes máscaras de Medusa – que, segundo Darson, é além do símbolo teatral, e sim uma homenagem à força das mulheres. A entrada do hotel, totalmente remodelada com um painel do artista plástico Guilherme Kramer, cujo traço principal é o ‘povo paulistano”.
 
Imperdível
Estreia e inauguração- 25 de janeiro, sábado, 20h.
Temporada até 9 de fevereiro de 2025, com sessões - quintas, sextas e sábados, às 20h e domingos às 19h.
Teatro-D-Jaraguá (Rua Martins Fontes, 71, Anhangabaú, Centro, fone 11-2802-7075).
Duração: 75 minutos.
Classificação livre.
Ingressos: 150 e 75 reais, e 60 reais (promocional)
Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/101947
Direção de produção DR Produções Teatro-D-Jaraguá. Assessoria de imprensa da Arteplural (M. Fernanda Teixeira, Macida Joachim, Maurício Barreira).

 
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