
Rastreado por 96 horas de filmagens inéditas, recuperadas e incrivelmente reeditadas sem recorrer à versão original, de 1979, o longa
Calígula: O Corte Final estreia nesta quinta, 5 de dezembro, ainda envolto em polêmica. Essa edição, restaurada em 4k e dada como definitiva, foi orientada pelo historiador, produtor e restaurador Thomas Negovan.
Efeitos visuais melhoraram a cenografia,
inteligência artificial serviu para limpar ruídos dos diálogos e cenas de nudez e crueldade sexual não foram poupadas. Afinal, o imperador romano entrou para a história por suas excentricidades, como a de ter nomeado cônsul de Roma seu cavalo Incitato.

O personagem é atraente, o elenco também: Peter O'Toole (1932-2013), Malcolm McDowell (cultuado em Laranja Mecânica), Helen Mirren (talentosa e sensual) e Teresa Ann Savoy (1955-2017), que faz Drusilla, irmã e amante de Calígula, além do ator shakespeariano John Gielgud (1904-2000). Basta esse quinteto para rever Calígula ou para ver agora, pela primeira vez. Atuações memoráveis. Mas tem também outro chamariz: o roteiro é de Gore Vidal, falecido em 2012, aclamado roteirista de Ben Hur.
Retalhado, proibido, polemizado, remasterizado,
Calígula: O Corte Final é uma prova da capacidade do cinema de se eternizar e ainda debutar no Festival de Cannes, festejando 45 anos de produção.

Sinopse da distribuidora A2: Assombrado pelo assassinato de sua família, o jovem e desconfiado Calígula (Malcolm McDowell) toma o trono do decadente Império Romano ao eliminar seu avô adotivo (Peter O'Toole), mergulhando em um ciclo de corrupção, violência e insanidade. A nova montagem é um tratado sobre os efeitos devastadores do poder e restaura, com fidelidade, as intensas performances de McDowell e de Helen Mirren, que vive a sedutora Cesônia, acompanhadas por cenários exuberantes criados pelo vencedor de dois Oscars, Danilo Donati.
Ah, os bastidores do original são tão rocambolescos que dariam uma boa comédia. Classificado como o filme independente mais caro da história, deve sua produção a Bob Guccione, dono da célebre (revista para adultos) Penthouse, que de tanto interferir na obra levou o diretor Tinto Brass e Gore Vidal a abandonar o projeto. Giancarlo Lui assume a direção e, a pedido do produtor, introduz cenas obscenas explícitas e, de forma tão aleatória, que causou repulsa – um escândalo.
A polêmica chegou ao Brasil: em 1992, a rede de televisão OM, do paranaense Oscar Martinez, colocou o filme na programação, ganhando boa audiência até a justiça proibir a exibição da segunda parte. Um ano depois, a OM era extinta e surgia a CNT, que sobrevive graças à devoção neopentescostal.
Realmente, quem vê Calígula, o original, se sente folheando a Penthouse. Porém, se a edição atual de três horas de duração não resulta em um “épico pornô”, contudo, mantém a depravação que Calígula teria imposto em seu império (de 37 a 41 d.C), incluindo uma despudorada e sangrenta cena de estupro.
Os bastidores continuam agitados mesmo agora, com
Calígula: O Corte Final. Consta que o diretor Tinto Brass ficou contrariado com a versão e andou cogitando processar os produtores.